#39 Abas Infinitas - Aqui e agora tudo sempre está bem
Como lidar com a ansiedade constante? Focando nas coisas boas
Eu planejava começar 2025 bem tranquila, cumprindo minhas (muitas) metas, respirando fundo e pensando na vida. Mas logo no começo do ano já veio uma notícia que tirou meu sono. Em um vídeo curto, Mark Zuckerberg explodia qualquer fantasia que pudéssemos ter em relação à busca pela imparcialidade e equilíbrio nas redes sociais. Aí veio a posse do Trump e todo seu pacote de maldades. Uma saudação nazista nos primeiros momentos do governo e todo mundo fazendo ginástica para não chamá-la pelo nome. Os brasileiros deportados e algemados. O Acordo de Paris, o Petróleo, a IA chinesa. Everything happens so much.
Fiquei pensando, o que fazer no nível pessoal diante desse mundo onde estamos todos dependentes das redes sociais, seja porque elas são viciantes ou porque precisamos dela para trabalhar ou saber o que está acontecendo no mundo. Elas se tornaram o centro da experiência humana, e ao mesmo tempo colocamos nosso cérebro e atenção a serviço de empresas que visam lucro, com CEOs que podem se alinhar a autocratas com síndrome de grandeza. E toda nossa vulnerabilidade na mão dessas pessoas, porque os algoritmos sabem mais de nós, do que nós mesmos.
O que consigo mudar no nível individual que realmente faça a diferença, mostre meu descontentamento com o rumo das coisas do mundo e da internet?
Infelizmente NADA. Não há muito o que fazer. E em vez de começar o ano cavando cada vez mais fundo me preocupando com o rumo do planeta, do discurso público, da vida em geral, entendi que é preciso voltar para dentro.
Aqui, neste momento, tudo está sempre bem. Acabei de comer um pão com manteiga. Meu filho joga Minecraft na sala com seu amigo Caio. À noite talvez eu asse um frango. Estou ouvindo uma playlist chamada Neo Soul & Jazz Hip Hop Grooves e escrevendo esse meu texto que será lido por algumas pessoas. Tenho a chance de expor meus pensamentos e me conectar silenciosamente com outros humanos, que felizmente ainda não se tornaram ciborgues.
Aqui, agora, está tudo bem. E por mais que seja fugir um pouco dos problemas, é preciso fazer isso para manter a sanidade mental. É conseguir entender o próprio lugar no mundo e concluir que não posso evitar as guerras, a fome, o terrorismo, ou mesmo que o planeta aqueça e os oceanos engulam ilhas inteiras.
Aí eu pensei: eu vou tomar mais um gole desse refrigerante que é para ver se esqueço dos problemas. E comecei a listar coisas que fazem a vida valer a pena. Coisas que enchem meu coração de ternura e alegria para pensar em momentos de desesperança, medo, e angústia. Só esse ano fui impactada por várias obras artísticas que encheram meu coração de paz. Como:
>> O sotaque francês da Nina Simone cantando Ne Me Quitte Pas
>> O vestido de noiva da Sabrina Sato
>> A poesia Quando eu morrer, do Mário de Andrade
>> A coleção de arte feita pelos funcionários do Metropolitan Museum of Art de Nova York
>> Os cartoons de Saul Steinberg como aquele lá em cima
>> A interpretação de Tom Hollander como Truman Capote na série FEUD - Capote vs Swans
>> A entrevista de Ruth Reichl no Podcast Wiser than Me
>> Essa entrevista da minha artista favorita, Louise Bourgeois
>> Esse vídeo do David Hockney pintando ao ar livre na Inglaterra
>> Esse TED Talk de uma neurocientista que narra o próprio derrame.
>> Esse filme de 1906 de uma cineasta mulher que já continha muito da narrativa visual que vemos hoje: Madame a des envies (1906) Alice Guy
>> Todas, absolutamente todas as entrevistas de Fernanda Torres, a mulher que nunca perde o carisma. Aqui está apenas uma delas.
>> E por último, o discurso da Fernanda Montenegro há 25 anos no Globo de Ouro. Quero começar todas as minhas reuniões em inglês desse mesmo jeito: “My English is not good, but my soul is better".
Até a próxima!
Haahhahhahahahha
Puxemos nossas cadeiras para sentar no convés de um Titanic em submersão, para tocar uma valsa que põe cor e alma a esse apocalipse.