# 34 Abas Infinitas - O que eu vou fazer para ser feliz hoje?
Tell me, what is it you plan to do with your one wild and precious life?
Dizem que uma vida feliz é feita da soma dos momentos felizes. O que me levou a concluir que se eu quero ser feliz no macro, talvez eu deva começar no micro. Passei portanto a me perguntar todos os dias: "o que vou fazer para ser feliz hoje?"
Parece meio frívolo ficar pensando em coisas como essas bem no momento em que o mundo está se desmanchando na nossa frente. Mas o que vai adiantar eu me irritar com as fake news, os políticos corruptos, os cientistas ignorados, os desastres ambientais, em todas as minhas 24 horas do dia? Eu sempre guardo um espaço para sofrer pelo todo, mas perseguir a felicidade também é uma ação importante no mundo de hoje. É a forma que encontrei para honrar a vida. Afinal, apesar das dificuldades, a vida é imensamente bonita e todos os dias são uma chance nova de ser grata pela vida. Por isso, nessa minha busca por momentos felizes, a ideia é experimentar as melhores sensações de estar viva.
Então em um dia duro como uma quarta-feira às seis da tarde, em que não houve nada de empolgante até então além do trabalho, me perguntar o que vou fazer para ser feliz significa decidir fazer um trecho do caminho para casa a pé para evitar o trem lotado. Ser feliz todos os dias pode significar sentar no jardim para tomar 10 minutos de sol na cara antes de voltar para o trabalho depois do almoço. Ou ouvir o CD Exodus do Bob Marley no repeat durante o trajeto de ida para já chegar feliz no trabalho apesar do precário transporte público.
Ser feliz todos os dias é ser capaz de suportar as coisas ruins porque está olhando para as coisas boas. É fazer compromissos consigo mesma e cumprir. É fazer um desenho mesmo que feio só para poder brincar com as cores em um papel. Ser feliz significa produzir algo em vez de só ler, assistir e consumir. É jogar a favor. Ser parte da solução.
O que eu faço para ser feliz hoje?
Praticar a gratidão: rezar e agradecer pelo novo dia que começa, e também pelo dia em que tudo terminou bem.
Incluir momentos felizes: ouvir a discografia da Beth Carvalho ou preparar um jantar mais elaborado sem motivo especial.
Comer bem: existem alimentos que intoxicam o corpo, deixam ele lento e desanimado. E o pior: boicotam o projeto de cuidar de si. Se alimentar bem é ter bem estar e energia para enfrentar o dia.
Fazer exercício: se não há felicidade vindo do mundo, é possível fabricá-la. Uma hora de exercício seja ele qual for com certeza te deixará feliz no final (e você raramente se arrependerá de ter feito).
Fazer algum tipo de arte: o cérebro funciona diferente se a gente não pensar muito. Fazer colagens com jornal, brincar com canetinhas ou tinta, ou apenas tentar copiar um cartoon. É relaxamento mental na certa.
Viver o momento: você só pode controlar o agora. Ele é a coisa mais certa que temos. A mais física. O passado e o futuro só existem na sua mente. No agora está tudo sempre bem. Como curtir com o que você tem, e estando onde você está?
Mais output que input: ler, assistir série, consumir o feed das redes sociais… Parece que você tá sendo útil, mas na verdade está enchendo o seu poço de emoções externas e nem sempre boas. Em vez de consumir, tirar um pouco de dentro e pôr para fora. Escrever, fazer uma arte, produzir algo. Sair do passivo e ir para o ativo. O que só você pode fazer ou escrever? O que você tem para dizer ao mundo?
Doar em vez de guardar: arrumar a casa, organizar a gaveta de talheres, viver de forma mais simples. Guardar menos tranqueira, desapegar das coisas materiais, doar, ajudar os outros, simplificar a sua vida. A organização externa tem um baita efeito interno. É o que diz a Marie Kondo: se aquela coisa material não te traz alegria, mande embora.
Todo dia há pelo menos uma boa chance para ser feliz e criar memórias boas. Com o tempo, isso vai criando uma fortaleza emocional porque o seu compromisso é com a alegria e felicidade, e não com o problema. E isso vira um modo de agir, quase que uma personalidade. É isso que eu quero construir para mim.
Como diria a poeta Mary Oliver, que vou citar logo abaixo:
Tell me, what is it you plan to do
with your one wild and precious life?
Algumas coisas legais que vi por aí:
Gratidão de um jeito não cafona
Ando curtindo os conteúdos da Lela Brandão, é quase que uma conversa entre amigas, a diferença é que só ela fala rs. Aqui ela fala um pouco sobre praticar a gratidão e eu acho que isso é revolucionário. Quando você começa a reparar em tudo o que está certo, as coisas erradas ficam pequenininhas. Depois que você começa, é claro que esse deve ser o caminho. Os monges estão dizendo isso há milênios.
A obra da Mary Oliver
Mary Oliver foi uma poeta americana que ganhou o National Book Award e o Prêmio Pulitzer e que morreu em 2019. Seu trabalho tem como principal inspiração a natureza por causa da sua paixão por caminhadas solitárias em meio a florestas. Seu fascínio pelo mundo natural acaba por trazer grandes ensinamentos para nós humanos. Eu vi um poema dela em algum filme que a citava e comecei a colecionar outros pelo Instagram.
Tem duas páginas legais que publicam sua obra Mary Oliver Poetry Page e Mary Oliver Official e aqui tem um compilado de seus melhores poemas. Esse aqui tá especial:
Wild Geese
You do not have to be good.
You do not have to walk on your knees
for a hundred miles through the desert repenting.
You only have to let the soft animal of your body
love what it loves.
Tell me about despair, yours, and I will tell you mine.
Meanwhile the world goes on.
Meanwhile the sun and the clear pebbles of the rain
are moving across the landscapes,
over the prairies and the deep trees,
the mountains and the rivers.
Meanwhile the wild geese, high in the clean blue air,
are heading home again.
Whoever you are, no matter how lonely,
the world offers itself to your imagination,
calls to you like the wild geese, harsh and exciting -
over and over announcing your place
in the family of things.
Daily Philosopher
Toda minha educação filosófica eu tirei do Instagram. Mentira, mas podia ser. O perfil Daily Philosopher do Instagram sempre traz muitas frases boas que elevam meu mood ao contrário de quase todo o conteúdo que o algoritmo me traz por lá.
O novo modelo da Open AI - GPT 4os
Talvez muita gente já tenha visto, mas a Open AI, criadora do ChatGPT lançou na última semana uma assistente virtual que parece uma personagem feminina criada por um bando de homens. Sua voz é sensual e ela parece flertar com o usuário, bem na vibe do filme Her. O próprio CEO tuitou a brincadeira.
Nessa nova atualização, você pode pedir ajuda para o ChatGPT perguntando em voz alta, escrevendo, ou apenas apontando a sua câmera para algo ou compartilhando a sua tela. O grande destaque é o jeito como a resposta vem: em forma de conversa com uma máquina capaz de ter empatia e senso de humor.
A demonstração passou por vários contextos, um mais surpreendente que o outro.
Essa assistente virtual pode inventar músicas ao vivo, dar palpite sobre qual o melhor look para uma entrevista de emprego, traduzir conversas como se fosse uma tradutora ou ensinar uma criança trigonometria melhor que muito professor por aí. Nessa thread tem vários vídeos dela em ação. O evento aconteceu na segunda (13), um dia antes da conferência I/O do Google que também ia apresentar inovações em IA.
Como analisou a Beatriz na newsletter Bits to Brands, "é difícil identificar o que veio primeiro. Se a nossa necessidade de conexão humana, em plena epidemia da solidão, foi o briefing para que essa tecnologia ofereça mais conforto. Ou se o objetivo era aumentar a sua conveniência, e a facilidade de interação é apenas mais uma feature na evolução da proposta de valor. Seja como for, o racional e o emocional se confundem cada vez mais na forma com que as pessoas utilizam inteligências artificiais”.
O GPT 4os ainda não está disponível para os usuários comuns com voz igual aos vídeos, apenas com texto.
Perfect Days
Nessa altura do campeonato todo mundo já pegou essa dica de algum lugar porque todo mundo estava falando desse filme do Wim Wenders, o Perfect Days. Está disponível no MUBI (pelo Prime) e Apple TV. O filme concorreu à Palma de Ouro no Festival de Cinema de Cannes de 2023 e foi selecionado como representante japonês para o Oscar de melhor filme internacional na edição de 2024. Ele conta a história de Hirayama que concilia seu trabalho como zelador dos banheiros públicos de Tóquio com sua paixão por música, literatura e fotografia. Sua rotina simples inspira pelo modo como ele encara a vida e as coisas.
Roadrunner: A Film about Anthony Bourdain
Outra dica boa é o documentário sobre a vida do chef, escritor e aventureiro Anthony Bourdain. O filme é uma visão íntima de como um chef anônimo se tornou um ícone cultural de renome mundial. As imagens trazem sua presença e contam a história com sua própria voz. Se você nunca leu o livro Cozinha Confidencial e estava esperando um sinal, ESTE É O SINAL.
E para finalizar, o Hayao Miyazaki reagindo à arte criada pela IA.